Pesquisas e experiências ao redor do mundo evidenciam a efetividade de medidas sanitárias como o uso de máscara e o distanciamento social para conter a disseminação do novo coronavírus. Em março, quando o DF tinha apenas dois casos confirmados da covid-19 e nenhuma morte, o governador Ibaneis Rocha publicou o primeiro decreto suspendendo as aulas e proibindo shows e competições esportivas. Dois meses depois, tornou obrigatório o uso de máscara na capital. Decisões analisadas como cruciais por epidemiologistas e infectologistas.
Um estudo publicado no fim de junho na Clinical Infectious Diseases, publicação original da Sociedade Americana de Doenças Infecciosas, revela que o distanciamento social e uma higiene rigorosa não apenas reduzem a transmissão do vírus, como também as chances de um infectado desenvolver complicações da doença. O grupo, formado por nove profissionais de diferentes áreas da saúde, analisou, na Suíça, um surto do novo coronavírus entre uma população de 508 soldados do sexo masculino com idade média de 21 anos. Os pesquisadores dividiram os militares em dois grupos com características similares e acompanharam a evolução da infecção em cada um deles antes e depois da implementação das medidas de distanciamento social.
No estudo, eles relatam que, dos 354 soldados infectados antes da implementação do distanciamento, 30% desenvolveram complicações da covid-19. Enquanto nenhum soldado do outro grupo de 154 militares, no qual as infecções surgiram após as medidas de isolamento, apresentou complicações da doença. Apesar disso, neste segundo conjunto de indivíduos foram detectados o RNA do vírus e anticorpos.
Diante dos resultados, os pesquisadores concluíram que as medidas de higiene, como o uso de máscara, e o distanciamento social podem controlar a disseminação do Sars-CoV-2 em um grupo de jovens saudáveis, como também prevenir as complicações da covid-19 “enquanto ainda induzindo uma resposta imune e colonizando passagens nasais”. “Inóculo viral durante infecção ou modo de transmissão podem ser fatores-chave que determinam o curso clínico da covid-19”, concluíram.
Nas redes sociais, o doutor em microbiologia e biólogo Atila Iamarino comentou sobre os resultados obtidos no estudo. Apesar de reconhecer que a mesma análise precisa ser replicada em outros centros, para Iamarino, ela revela como o uso de máscara e o distanciamento podem influenciar, inclusive, na diminuição da letalidade da covid-19. Isso estaria ligado à carga viral à qual um indivíduo está exposto. Essa dose, além dos fatores de risco, ditaria as chances do paciente desenvolver complicações, tendo em vista que, diante de uma pequena quantidade, o corpo, então, teria tempo de responder e controlar o agente infeccioso antes dele se instalar no pulmão, por exemplo, e causar uma inflamação séria. Fatores que, em cadeia, provocariam uma diminuição no número de pessoas precisando de leitos de unidade de terapia intensiva (UTI).
Hemerson Luz, especialista em doenças infecciosas e médico dos hospitais de Base e das Forças Armadas (HFA), explicou, que três fatores indicam a ocorrência da doença e a evolução. A virulência do vírus, ou seja, a capacidade que ele tem de causar a doença em conjunto com a relação de comorbidades e grupos de risco; a imunidade do paciente; e a quantidade de binóculo ou microorganismos infecciosos que a pessoa entra em contato. “Quanto menor a quantidade do vírus, menor será a possibilidade de desenvolver um quadro grave. A doença tende a ser mais branda”, afirmou. “Como o vírus é transmitido pelas gotículas, quando falamos, tossimos, cantamos, quando colocamos uma barreira, que no caso é a máscara, evita que ele fique no ar e depois deposite na superfície. Não existe uma droga profilática, ou seja, que previna a doença, por isso são fundamentais o distanciamento social e o uso de máscara como principais medidas para prevenção”, disse o especialista.
Fonte: Correio Braziliense