Álvaro Sampaio, Iatista de corpo e alma, se despediu da vida na última semana. A ausência física do fundador será sentida e, ao mesmo tempo, o seu legado viverá para sempre. Ele foi um dos 11 que, em 1957, participou da reunião para debater o nascimento do Iate Clube de Brasília, um pedido do presidente Juscelino Kubitschek e um sonho para aqueles fundadores.
“Era uma época de muita seca e estávamos determinados a fazer um clube do jeito que a gente imaginava. (…) eu fui convidado para secretariar a reunião e anotar todas as providências necessárias para organizar juridicamente o Clube – uma sociedade civil por cotas, sem fins lucrativos ou políticos, com o objetivo de estimular e desenvolver os esportes náuticos entre seus associados”, afirmou Álvaro Alberto Sampaio.
A região hoje ocupada pelo Iate era “puro mato”. Brasília, segundo o fundador, era “poeira e progresso”. O olhar tranquilo de Álvaro viu o nascimento de um dos maiores bens do Iate. “(…) os rios e riachos represados, totalmente desavisados, continuavam a desaguar na barragem que um dia seria o Lago Paranoá”, relatou.
O presidente do Conselho Deliberativo, Edison Garcia, afirma que lembrará de Álvaro Sampaio como um homem distinto, atuante e que sempre trabalhou em prol do Clube.
“Quando resolvemos alterar o estatuto em 2014, época em que eu era comodoro, Sampaio foi bastante participativo, trazendo toda a história da evolução estatutária do Iate. Ele foi uma verdadeira memória viva e desempenhou papel fundamental na modernização do estatuto”, ressalta.
A dedicação em transformar o Iate Clube em referência nacional, conta Garcia, era um propósito de vida de Sampaio.
“Como velejador, ele estava presente em todas as regatas e nos grandes eventos. Politicamente, nosso grupo sempre contou com o apoio do Sampaio em todas as eleições. Estávamos sempre juntos”. Além de Sampaio, Edison Garcia recorda com carinho do convívio e da relação fraterna que teve com outros três fundadores: Léo Sebastião David, Antônio da Cunha e Carlos Murilo.
“A partida do nosso querido Álvaro Sampaio encerra um capítulo importante da história do Iate. Cabe a nós conselheiros dar seguimento ao legado dos fundadores, sendo guardiões do estatuto e mantendo a identidade de clube socioesportivo e cultural”, completa o presidente do Conselho Deliberativo.
Luiz André Almeida Reis, Comodoro do Iate, enalteceu o legado e a vida de Álvaro Sampaio. Na última terça-feira (9), no dia da apresentação de Zé Renato no Clube, ele proferiu algumas palavras na abertura do evento e pediu uma salva de palmas para o sócio-fundador.
“Ele [Sampaio] estava aqui antes da inauguração do Clube, teve um papel enorme na organização da Náutica e sempre foi um enorme parceiro, apoiando todas as gestões que passaram por aqui”, disse o Comodoro.
Em fevereiro, Sampaio esteve no Clube para uma entrevista, que gerou a matéria: ‘O olhar do fundador’, publicada na Revista Farol, número 99. Ele tanto fez que consolidou o Iate como uma instituição “respeitada e grande”, nas palavras do ex-comodoro Ennius Muniz em 1997 e publicado no boletim semanal n⁰ 588.
Apaixonado pelo Iate Clube, Álvaro Sampaio , de alguma forma, sabia bem que para viabilizar a convivência ordenada e para que o Iate Clube alcançasse a grandeza reconhecida anos depois da fundação pelo patrono JK era preciso criar normas.
E como disse em fevereiro, ao mostrar o estatuto que ele carregava, grande parte das palavras do documento foram dele. Sampaio reconheceu que o Estatuto Clube era o seu maior legado, um grande presente deixado para cada sócio do Iate.
No entanto, o Comodoro acredita que o legado de Sampaio vai além do estatuto. “O Álvaro foi um abnegado que trabalhou a vida inteira pelo Clube. Esse é o grande legado e exemplo que deixa para todos nós. Ele tinha um amor imenso pelo Iate e foram 64 anos trabalhando pelo Clube”.
Além das normas, Sampaio também faz parte da história da vela do Iate. Na classe pinguim, o fundador disputou inúmeras provas e, mais tarde, daria nome a um dos torneios realizados pelo seu amado clube.
Sampaio foi um dos fundadores e viveu o dia a dia do Iate. Foi presença certa em eventos sociais e nas posses das novas gestões. Como conselheiro, acompanhou o crescimento e a evolução da sua própria criação. A exemplo disso, em 1993, ele elogiou as inaugurações feitas, pois elas melhoraram o Clube e enriqueceram o patrimônio dos sócios.
Naquele ano, Sampaio foi o presidente da Comissão de Revisão do Estatuto, que teve a missão de atualizar as normas, ajustando-as aos tempos. Entendedor das leis e regras, coube ao fundador também ocupar a cadeira de presidente da Comissão Eleitoral.
“É uma amizade enorme que a gente não vai esquecer tão cedo, fica nos anais do Clube o registro da presença dele aqui e é muito bacana que ele ajudou a criar tudo isso que nós somos hoje. Temos que lembrar sempre que o Iate de hoje foi construído por todos que trabalharam no passado aqui”, pontua Luiz André Almeida Reis.
Álvaro Sampaio, fundador, benemérito, velejador e amigo, será um nome que estará para sempre na história de Brasília e do Iate Clube. Seu último desejo era ser cremado e ter as cinzas espalhadas por um dos amores que teve em vida, e a partir de agora, que cada Iatista siga honrando e celebrando a obra de Sampaio.